Setembro Amarelo: O que não dizer para uma pessoa que pensa em suicídio?
Setembro Amarelo: O que não dizer para uma pessoa que pensa em suicídio?
Frases como ‘pense positivo’ ou ‘sua vida é melhor do que a de muita gente’ podem ter efeito devastador para quem está em sofrimento; saiba como ajudar
Algumas frases não devem ser ditas para pessoas que estão em sofrimento intenso e pensam em suicídio. Foto: Pixabay
Alguns temas ainda fazem parte de um tabu na sociedade brasileira. Suicídio é um deles. Ao mesmo tempo, nos últimos anos, com a criação do ‘Setembro Amarelo’, as pessoas estão mais abertas para o assunto e ações preventivas estão cada vez mais presentes. Conheça como surgiu a campanha clicando aqui.
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No entanto, ouvir de um amigo, colega de trabalho ou de um familiar que a pessoa pensa em se matar pode ser surpreendente e há quem não consiga lidar com a situação.
A melhor dica é ouvir quem está em sofrimento, sem julgamentos.
“Expressões que diminuem o que a pessoa sente como “isso não é nada”, “tem gente em situação pior” ou fazer que se sinta ainda mais culpada como “foi você quem procurou isso” devem ser evitadas porque esse é um momento em que o paciente precisa de acolhimento e não de repreensão”, avalia a psicóloga Elaine Di Sarno, especialista em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (IPq-HC).
Ouvir mais e falar menos: acolhimento é melhor maneira de lidar com pessoas que não desejam mais viver. Foto: Pixabay
O diálogo e a transparência são elementos fundamentais na prevenção do suicídio. “As teorias recentes defendem que pode haver uma predisposição individual para o suicídio, que é ativada ao longo da vida por experiências negativas precoces (experiências traumáticas) que vão dar origem a um padrão de pensamento negativo. Os números apontam-nos um grande culpado. Mais de 50% das pessoas que se suicidaram sofriam de depressão”, afirma Elaine Di Sarno.
Situações de separação, divórcio, luto recente, solidão, desemprego, mudança ou perda recente de trabalho, problemas escolares ou laborais, doença grave ou crônica e dependência de drogas e álcool podem, efetivamente, resultar numa resposta negativa e levar ao suicídio.
O que explica a ideação suicida?
Muitas pessoas que pensam sobre o assunto têm a sensação de desesperança e que a única solução disponível seria a morte. “O suicídio é o ato mais individual do ser humano. Contudo, como qualquer fenômeno humano, implica um entendimento bio e psicossocial. O isolamento, a sensação de desintegração social e de não pertença detêm um peso significativo na decisão suicida. Quando ajudadas a tempo, as pessoas podem entender que há outras formas de resolver as suas circunstâncias e que há quem se encontre empenhado em ajudá-las”, avalia a psicóloga.
Ouvir mais e falar menos: frases que não devem ser ditas
Se alguém te procurar e der sinais de que pensa em suicídio, além da acolhida e oferecer ajuda, jamais diga frases que podem piorar o sofrimento dessa pessoa. Confira:
– “Sua vida é melhor do que a de muita gente”: Não existe disputa para saber quem sofre mais do que o outro. A sensação de desesperança é individual e intransferível.
– “Pense positivo”: Só a positividade não é capaz de motivar o indivíduo na busca por sobrevivência. Apenas não diga isso.
– “Se você confiar em Deus, você cair na real”: A religiosidade pode ter importância na vida de algumas pessoas, mas isso não é unanimidade. Pense que o sofrimento está além da espiritualidade.
– “Mas por que você está pensando em se matar?”: Essa frase, dita em tom ‘especulativo’, pode estar carregada de julgamento e ser devastadora para quem se sente na obrigação de dar explicações, mesmo sem ter um motivo aparente para pensar em suicídio. No lugar, prefira perguntar: “Você gostaria de falar mais sobre isso?”, em tom acolhedor.
– “Por que você vai se matar por causa dele (a)? Não vale à pena”: Essas duas sentenças, embora pareçam desprezar o que seria o motivo do sofrimento, fazem com que a pessoa tenha o sentimento desvalorizado.
– “Eu conheço muita gente que pensa em se matar também, mas não faz nada”: Esse é o conhecido mito de que “quem quer se matar, não avisa”. Especialista são unânimes em avaliar que o indivíduo em sofrimento distribui sinais de que pensa em suicídio. Cabe a sociedade aprender a identifica para ajudar.
– “Eu também já pensei em suicídio, mas eu sou uma pessoa forte e consegui superar”: Dizer que você é forte e que, por isso, superou o pensamento suicída não contribui para aliviar o sofrimento alheio.
– “Quem pensa em suicídio tem a mente fraca”: Não existe “mente fraca” ou “mente forte”. Cada indivíduo enfrenta problemas emocionais de maneira peculiar. Não julgue.
Suicídio entre jovens e a prevenção
Em junho, o Centro de Valorização da Vida (CVV) lançou, com apoio do Unicef, uma série de vídeos para reduzir os crescentes índices de suicídio entre jovens e adolescentes no Brasil. O material tem curadoria de especialistas em saúde mental, como o psiquiatra da Unicamp Neury Botega, da psicóloga Karen Scavacini e de integrantes das instituições.
Assista ao vídeo:
Suicídio entre profissionais de segurança pública
O Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção (GEPeSP) divulgou um relatório inédito na última segunda, 26, sobre o índice de mortes entre policiais civis e militares em São Paulo. Os dados inéditos mostram que o número de suicídios entre agentes de segurança no Brasil mais que dobrou em 2018.
Na Polícia Militar, os suicídios consumados e as tentativas de suicídio se destacaram. Na Polícia Civil, o homicídio seguido por suicídio (H/S) foi a categoria de análise que teve maior representatividade: dos 25% dos casos relatados envolvendo policiais civis são homicídios seguidos de suicídio. As mortes de policiais civis por causa indeterminada correspondem a 12%, o terceiro maior percentual do total.
A maior parte das vítimas é do sexo masculino com a idade média de 39 anos e exerce funções operacionais. A arma de fogo foi o principal meio utilizado.
Sobre as possíveis motivações para suicídio entre agentes de segurança está os problemas relacionados à saúde mental, de acordo com relatos de parentes e amigos das vítimas.
Familiares e amigos podem ajudar
Os familiares podem e devem falar sobre o assunto. O objetivo é tentar avaliar o que está se passando com a pessoa, mas nunca em tom de ‘interrogatório’. É preciso ter uma abordagem acolhedora e sem nenhum tipo de preconceito, em um local adequado, de preferência confortável.
“O desejo de se matar precisa deixar de ser tabu para ser sintoma de sofrimento psíquico. É preciso ter disponibilidade para mostrar que nos preocupamos de verdade. É fundamental ouvir com atenção e respeito, sem julgamento ou censura e sem preleções morais ou religiosas. É preciso respeitar a dor do outro. Muitas vezes, podemos achar a motivação banal, mas cada um sente e se angustia com as coisas de forma particular”, conclui a psicóloga Elaine Di Sarno.
Busque ajuda
No Brasil, o CVV oferece atendimento voluntário e gratuito 24 horas por dia a quem está com pensamentos suicidas ou enfrenta outros problemas. “Mesmo que você não tenha certeza de que precisa de nossa ajuda, não tenha receios em entrar em contato com a gente. Um de nossos voluntários estará à sua disposição”, explica a equipe do site.
A organização, uma das mais antigas do País, atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio por meio do telefone 188 e também por chat, e-mail e pessoalmente. Confira as opções aqui.