Auditoria Cidadã da Dívida mobiliza por mudança do modelo econômico
Fome, desemprego, desmonte das políticas sociais e de transferência de renda, exploração implacável do trabalho, privilégios para os bancos e a iniciativa privada, obsessão por reformas e privatizações, medidas antipopulares. O país que já vinha de mal a pior depois de um período de crescimento econômico, geração de empregos e renda e inclusão social, mergulhou de vez no obscurantismo e no atraso econômico com a ascensão de Jair Bolsonaro (sem partido) à presidência da República e da coroação do banqueiro Paulo Guedes como superministro da Economia. Esse modelo que só produz exclusão e também é alimentado pela dispersão dos movimentos sociais, que lutam separadamente por causas distintas, precisa mudar.
O alerta é da campanha nacional É hora de virar o jogo, lançada pela Auditoria Cidadã da Dívida (ACD), iniciada no dia 8 de agosto em redes sociais e que visa conscientizar e aglutinar os diversos setores da sociedade por um modelo mais justo.
“O objetivo da campanha é mostrar às pessoas que nós podemos ter uma condição de vida melhor do que a que temos hoje no país, que só produz escassez, joga a maioria da população na miséria, corta os recursos que deveriam ser investidos em educação, em saúde, assistência, previdência, e em todos os investimentos geradores de emprego e renda”, explica a auditora fiscal Maria Lucia Fattorelli, coordenadora nacional da ACD.
“O modelo atual acaba com o nosso patrimônio público, entrega nossas riquezas para grandes corporações explorarem e essas corporações deixam apenas do dano ambiental. O poder financeiro se infiltra em todas as áreas do poder e se impõe. Se continuarmos lutando em separado, vamos continuar perdendo”, constata.
Exploração humana e ambiental
“Temos que chamar a sociedade para desenvolver um outro modelo, que garanta os direitos sociais na sua plenitude, de forma universal, com respeito humano. Não é possível que tantos milhares de brasileiros sejam jogados na miséria, no desemprego, no abandono total como está acontecendo. Não é possível a dilapidação do nosso patrimônio público e das nossas riquezas, deixando o dano ambiental brutal e o esquema da dívida, que absorve todos os recursos. A maior parte dos recursos do orçamento”, define Fattorelli. “Toda a riqueza da exploração mineral e do agrobusiness não aparece no orçamento público. A riqueza fica para as grandes corporações e a gente fica com o dano ambiental”
Na prática, alerta Fattorelli, o modelo econômico sob Paulo Guedes é implementado por meio de diversas medidas econômicas e tende a se agravar. “São várias medidas. Uma hora é reforma da previdência, reforma trabalhista, reforma administrativa, a emenda do teto de gastos, a emenda 106, que autorizou o Banco Central a comprar papel podre de bancos aos trilhões, as privatizações, o projeto de independência do Banco Central, a tal da securitização que é uma nova forma de gerar dívida pública que é paga por fora dos controles orçamentários. É um escândalo! O sistema da dívida gera dívida sem contrapartida e funciona como um mecanismo de contínua transferência de recursos para os bancos e aí todo o sacrifício social é feito para pagar essa dívida”, denuncia.
Mobilização social
Durante os próximos três meses, a campanha vai buscar conscientização de que é preciso unificar as lutas e construir uma grande mobilização social com vistas a outro modelo, no qual o Estado Social seja forte e garanta vida digna para todas as pessoas e respeite o ambiente. O tabuleiro de xadrez que identifica a mobilização, explica ela, remete ao jogo de ganha-ganha do mercado financeiro.
“Todas essas medidas fazem parte de um mesmo jogo, é um tabuleiro só. E nós, sociedade em geral, estamos perdendo feio esse jogo. Porque nós estamos lutando de maneira separada. Quando vem o ataque à área da Educação luta por um lado, quando vem o ataque à Saúde, o pessoa da Saúde luta por outro lado, privatização de alguma empresa, cada um lutando em separado. E por isso a gente está perdendo esse jogo. Nós queremos com essa campanha mostrar que precisamos, lutar juntos, precisamos unificar forças, somar forças sociais, porque o nosso inimigo é comum”, expõe Fattorelli.
Um ministro a serviço da banca internacional
O principal alvo da campanha de esclarecimento é o Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements – BIS). “O nosso inimigo está instalado na cúpula do setor financeiro. Por isso que na figura de lançamento da campanha nós colocamos a sigla e o prédio do BIS, que é uma instituição privada, que se autodenomina o Banco Central dos bancos centrais, e manda nas finanças mundiais, está por trás das rédeas desse modelo econômico errado por meio do qual ele atua aqui no Brasil”, diz a auditora fiscal.
Fattorelli acredita que as lutas populares devem entender e denunciar essa lógica que mantém a economia local como refém e unificar a luta. “As pessoas precisam saber disso para haver mais união nas lutas sociais para que nós construamos um novo modelo, baseado na ética, no respeito humano, no respeito à natureza e que o estado social seja forte, que o nosso patrimônio seja preservado e que todos os brasileiros e brasileiras tenham vida digna”.
Sobre a obstinação do ministro da Economia em privatizar e reformar, a coordenadora nacional da ACD dispara: “Paulo Guedes está a serviço do BIS, a serviço da banca privada, nacional e internacional, porque essa é a turma dele, ele vem dessa área dos bancos e ajudou a fundar o BTG Pactual para onde está indo agora o Mansueto” – o ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, foi anunciado na última segunda-feira como o novo economista-chefe do BTG Pactual, com início na função previsto para meados de janeiro de 2021.
“Na campanha, as pessoas vão compreender melhor esses movimentos e como o poder financeiro atua. Ele se infiltra em todas as áreas do poder e comanda. Se as pessoas ficarem lutando em separado, a gente vai continuar perdendo como a gente vem perdendo. Temos que parar com isso, temos que virar o jogo, porque somos a maioria, nós é que realmente produzimos a riqueza e não dá mais, chegou a um ponto em que estão destruindo a estrutura de Estado e a possibilidade de vida das pessoas”, conclui.